O mundo do vinho, tradicionalmente associado à celebração e à cultura, encontra-se no epicentro de uma nova disputa comercial. As recentes tarifas impostas pelo presidente Donald Trump sobre vinhos europeus estão gerando preocupações significativas entre importadores, restaurantes e consumidores nos Estados Unidos.
Com aumentos que chegam a 200% em alguns casos, a medida ameaça alterar profundamente o mercado vinícola global. Em abril de 2025, o governo dos EUA implementou uma tarifa de 20% sobre vinhos e bebidas alcoólicas provenientes da União Europeia, como parte de uma estratégia mais ampla de política comercial protecionista.
A medida visa pressionar a UE em negociações comerciais, mas tem causado apreensão em diversos setores econômicos.
A situação escalou quando Trump ameaçou impor uma tarifa de 200% sobre vinhos, champanhes e outras bebidas alcoólicas europeias, caso a UE não retirasse suas próprias tarifas sobre produtos americanos, como o uísque. Essa retaliação mútua intensifica a guerra comercial entre os blocos.
Impacto nos Estados Unidos
Os Estados Unidos são o maior importador mundial de vinhos, com destaque para rótulos franceses e italianos. Com as novas tarifas, importadores e varejistas enfrentam aumentos significativos nos custos, que inevitavelmente serão repassados aos consumidores.
Restaurantes e bares, especialmente os que dependem de vinhos europeus em seus cardápios, estão preocupados com a possibilidade de perda de clientes devido aos preços mais altos.

Adam Williams, proprietário da Ansley Wine Merchants em Atlanta, expressou preocupação com a sustentabilidade de seu negócio, que depende majoritariamente de vinhos importados. A National Association of Wine Retailers alertou que as tarifas podem resultar em perdas de receita, demissões e até fechamento de empresas no setor.
Repercussões na Europa
Do outro lado do Atlântico, produtores europeus também sentem os efeitos. A Bodegas Bello Berganzo, da região de Rioja Alavesa na Espanha, teve um pedido de 600 garrafas cancelado por um importador americano devido às tarifas. A incerteza quanto à continuidade das exportações para os EUA está levando produtores a buscar novos mercados, como Canadá, Japão e México.
Além disso, as ações de grandes fabricantes europeus de bebidas alcoólicas, como LVMH e Pernod Ricard, sofreram quedas significativas após as ameaças de tarifas adicionais por parte dos EUA.
Oportunidades para Outros Mercados
Enquanto os principais atores enfrentam desafios, países como Brasil, Chile, Argentina e Austrália podem encontrar oportunidades. Com a redução da competitividade dos vinhos europeus nos EUA, esses países têm a chance de expandir sua presença no mercado americano, oferecendo alternativas mais acessíveis aos consumidores.
Reequilíbrio do Mercado Global de Vinhos
As tarifas impostas pelo governo Trump sobre os vinhos europeus desencadearam uma série de repercussões significativas no mercado vinícola global. Países tradicionalmente fortes na exportação de vinhos para os Estados Unidos enfrentaram desafios consideráveis, enquanto outros viram oportunidades emergentes.
Países Mais Afetados
- França: Como principal exportador de vinhos para os EUA, a França sofreu uma queda de 25,3% nas exportações para o mercado norte-americano no primeiro semestre de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019. A participação de mercado francesa nos EUA diminuiu de 34,3% para 28,5% .Wine Fun
- Alemanha: As exportações alemãs de vinhos para os EUA caíram 39,3% no mesmo período, refletindo o impacto significativo das tarifas .Wine Fun
- Espanha: As exportações espanholas de vinhos para os EUA diminuíram 12,3%, afetando especialmente pequenas vinícolas que dependiam do mercado americano .
- Portugal: Com os EUA sendo o segundo maior mercado para os vinhos portugueses, representando exportações de €102,1 milhões em 2024, as ameaças de tarifas de 200% geraram preocupações significativas sobre a sustentabilidade das exportações para o mercado norte-americano .UOL Notícias+2Supply Chain Magazine+2ECO+2
Países Menos Afetados e Oportunidades Emergentes
- Itália: Inicialmente isenta das tarifas, a Itália viu suas exportações de vinhos para os EUA aumentarem, aproveitando a lacuna deixada por outros países europeus afetados.
- Chile e Argentina: Como países não membros da União Europeia, Chile e Argentina não foram alvo das tarifas, permitindo-lhes expandir sua presença no mercado americano e oferecer alternativas competitivas aos consumidores.
- Austrália: Também fora do escopo das tarifas, a Austrália fortaleceu sua posição no mercado dos EUA, especialmente com seus vinhos tintos populares.
Essas dinâmicas ilustram como políticas comerciais podem reconfigurar rapidamente os fluxos de comércio internacional, beneficiando alguns enquanto prejudicam outros.
Conclusão
As tarifas impostas pelo governo Trump sobre os vinhos europeus representaram mais do que uma medida protecionista, foram o estopim de uma reorganização nos fluxos comerciais do setor vinícola global. Países como França, Alemanha, Espanha e Portugal, grandes exportadores para os Estados Unidos, viram-se prejudicados com aumentos de tarifas que chegaram inicialmente a 25% e, em alguns casos, escalaram até ameaças de 100% a 200% sobre determinados rótulos.
Essas medidas, aplicadas durante seu primeiro mandato e reforçadas no segundo mandato iniciado em 2025, acirraram tensões comerciais com a União Europeia. No início de 2025, já como presidente reeleito, Donald Trump retomou sua retórica de defesa da indústria nacional, justificando novas rodadas de tarifas como uma resposta à “concorrência desleal” e aos subsídios agrícolas europeus.
A nova rodada tarifária de 2025 impactou especialmente vinhos premium e espumantes europeus. Entre os mais afetados, destacam-se:
- Champanhes franceses, cujas exportações para os EUA enfrentaram tarifas de até 100%, gerando aumento expressivo de preços nas prateleiras americanas.
- Vinhos tranquilos de denominações protegidas (como Rioja, Bordeaux e Chianti), que passaram a enfrentar uma carga tributária adicional, reduzindo sua competitividade.
- Produtos com forte valor agregado e reconhecimento internacional, que perderam mercado para vinhos de países fora do bloco europeu.
Essa política intensificou o movimento de diversificação por parte dos importadores americanos, que buscaram parcerias com produtores da América do Sul, África do Sul e Oceania, regiões que não foram afetadas pelas medidas tarifárias. Ao mesmo tempo, vinícolas europeias iniciaram campanhas estratégicas para reduzir a dependência dos EUA, voltando-se para mercados emergentes da Ásia, como China e Coreia do Sul, e para países da América Latina.

A medida gerou protestos tanto do setor vinícola quanto do setor de hospitalidade nos EUA. Restaurantes, distribuidores e comerciantes relataram quedas nas vendas e dificuldade em manter estoques de rótulos consagrados. A diversidade de opções enológicas diminuiu, ao mesmo tempo em que os preços aumentaram para o consumidor final.
Esse episódio mostra com clareza que o vinho, para além de seu apelo cultural e gastronômico, está profundamente entrelaçado às dinâmicas políticas e comerciais globais. As tarifas de Trump, em seus dois mandatos, não apenas reconfiguraram o mercado de vinhos nos Estados Unidos, mas também aceleraram transformações na forma como os países produtores se posicionam no cenário internacional.
No fim das contas, o que era uma taça de celebração se tornou símbolo de um campo de batalha comercial, e os efeitos dessa disputa ainda borbulham em cada safra e garrafa ao redor do mundo.